Reflexões sobre a discussão de territórios e COVID-19
A pandemia COVID-19 está relacionada ao conceito de território como espaço social e que envolve a ciência da epidemiologia e como a ação do homem pode ajudar na disseminação da doença, junto ao fenômeno da globalização. Como pode ser visto no texto “TERRITÓRIO: ESPAÇO SOCIAL DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E DE POLÍTICAS” o território não pode ser visto apenas como um espaço geográfico, é imprescindível que se analise um espaço socialmente, visando a qualidade de vida e saúde junto a outras áreas. Estudar socialmente um território é importante para observar os diferentes modos de vida que os indivíduos possuem por causa do espaço onde estão inseridos. Os indivíduos vivem, adoecem e morrem diferentemente conforme sua inserção nas classes sociais. Independente da doença, neste caso o COVID-19, a determinação social para a manifestação da doença é distinta para diferentes pessoas, mesmo que o agente etiológico não mude. Sendo assim, um indivíduo que pertence à classe média e um indivíduo morador da periferia, terão problemas diferentes com a mesma doença. A natureza flexível e aplicável a múltiplos fins dos recursos econômicos e sociais faz com que eles possam ser usados de diferentes maneiras em diferentes situações para promover a saúde dos seus detentores ou minimizar as consequências da doença. Tendo como exemplo as complicações da Covid-19 em diferentes territórios, destaco a reportagem do G1 NOTICIAS, “Morumbi tem mais casos de corona vírus e Brasilândia mais mortes; óbitos crescem 60% em uma semana em SP”.
Deve-se refletir sobre as circunstâncias de trabalho, localização e moradia dos trabalhadores assalariados e sobre o papel dos diversos fatores que podem contribuir para uma maior exposição e propagação da doença entre estas categorias da base social. No âmbito espacial, a distância entre moradia e trabalho, a dependência do transporte coletivo, a deficiência de saneamento, a densidade demográfica, a interação face a face, as limitações internas em espaço e suporte das moradias (que tem a função de proteção), geram situações e comportamentos de risco para aqueles que se distribuem em espaços com estas características.
Em momento de pandemia se faz, mais do que nunca, necessário olhar para o nosso território de forma social, visando a promoção da saúde, por meio da promoção da solidariedade, onde vários sujeitos sociais e o Estado atuem coletivamente a fim de promover a melhoria das condições de vida e saúde. Para que isso ocorra de maneira justa é preciso conhecer todas as realidades vividas no país, conhecendo os indivíduos, o espaço em que vivem e como ocorre a relação dos indivíduos entre si e com o espaço. Feita esta análise, pode-se elaborar estratégias de ação cuja relevância social possa auxiliar na promoção de saúde.
Assim como foi tratado nas aulas, as desigualdades não são fruto da pandemia, mas sim, anteriores à ela e fruto do nosso modo de produção. Durante essa fase, as mesmas estão sendo evidenciadas e até mesmo agudizadas.
Moro em São Vicente, aqui as desigualdades tornam-se bem evidentes ao percebermos que os bairros com maior número de contaminados são os bairros com maiores índices de vulnerabilidade.
As desigualdades se evidenciam das mais diferentes formas em nosso cotidiano, uma delas refere-se ao isolamento social, que não é garantido a todos e ao invés de ser visto como um direito, passa a ser visto como um privilégio para pequenos grupos.
Conheço algumas diaristas que continuam trabalhando, pois seus serviços são vistos por muitos como essenciais e também pelo fato dos patrões não terem garantido o pagamento dos salários durante o isolamento. As desigualdades de gênero se tornam mais evidentes, quando vemos as mulheres sobrecarregadas com os cuidados da casa, dos filhos, lições de casa, além do home-office. Percebemos a insuficiência do valor pago pelo auxílio emergencial quando muitas pessoas precisam continuar trabalhando, mesmo recebendo o auxílio.
Com a redução das frotas de transportes públicos, vemos muitos trabalhadores tendo que enfrentar diariamente os transportes extremamente lotados, correndo o risco de serem contaminados. Enquanto estamos isolados, pedindo comidas, fazendo compras por aplicativos, muitos motoboys estão se arriscando dia após dia para garantirem o sustento de seus familiares. Enquanto para mim, mulher, branca, usar máscara está sendo algo comum, para um homem, negro não. Precisamos nos atentar para as diferentes desigualdades que se explicitam em nosso cotidiano, reconhecermos nossos privilégios e batalharmos para garantirmos o direito à vida e a saúde de toda população e por uma nova sociabilidade.
No meu bairro as desigualdades se apresentam em sua propria formação, moro em Paraisópolis, e a divisão da parte mais vulnerável e da parte mais rica do bairro se divide através da avenida Giovanni Gronchi, de um lado as pessoas que podem ficar em casa do outro lado as pessoas que moram na favela e não conseguem ficar em casa, pois precisam ir trabalhar.
As desigualdades tornam-se mais transparentes e se acentuam devido às consequências já estabelecidas, às novas necessidades e às novas condições como adoecimento, desemprego, diminuição de renda, entre outros aspectos.
Portanto, há necessidade de repensar a respeito dos valores, afinal “O sistema social é quem está doente”. Logo, é preciso transformar este sistema. O momento da pandemia pode ser então uma fase importante para efetivar tal transformação, aproveitando-se para reunir esforços, organizar-se melhor em lutas mais profundas, opor-se à opressão, enfrentar e combater as situações precárias, o preconceito e as imposições.
No sentido mais amplo, o agravamento da pandemia, em nível nacional, devido ao comportamento e discurso do Presidente da República, à falta de ações práticas nas áreas da Saúde e Economia, amplia ainda mais as dificuldades de acesso às políticas de vulnerabilidade. Portanto, hoje, mais do que enfrentar as desigualdades, é preciso realizar a defesa da vida, que está no cuidado em liberdade, antes de tudo, para jovens, negros, pobres, mulheres, índios e quilombolas.
Levando em consideração que moro em uma área considerada “favelizada“, ou como costumamos carinhosamente chamar de “PFP – Predinhos Favela em Pé”, convivo diariamente com situações de desigualdade como a criminalidade e a fome. Os fatores de raça e gênero são evidentes nessa problemática supracitada.
Há muitas famílias mononucleares, nas quais as mães são chefes de família e se submetem a empregos precários para conseguir levar o alimento as suas casas. “Para grande parte destes trabalhadores brasileiros desprotegidos, o isolamento não é uma possibilidade. Ou se fica vulnerável ao vírus, ou não se paga as contas. Parar significa uma tragédia em uma população já super-endividada. (...) Ao não dormirem bem, a imunidade cai. Muitos desses sujeitos encarnam a lógica neoliberal que atribui ao próprio indivíduo a responsabilidade do sucesso ou fracasso. Por sujeição ou falta de opção, eles se colocam em um regime vigilante intenso de autodestruição” (The Intercept, 17/03/20).A comida não pode faltar, o aluguel e contas precisam ser pagas e os cuidados referente a Pandemia são colocados em segundo plano, mas não por opção e sim por necessidade, como destaca o texto citado. E, por muitas vezes não terem o suporte e estruturas necessárias para viver nessas condições os filhos acabam aderindo à criminalidade em busca de saídas para a miséria.
É evidente que os fatores socioeconômicos podem aumentar ou diminuir o risco de as pessoas contraírem doenças como a Covid-19. Desta forma, conclui-se que condições de alimentação, moradia, trabalho, fatores psicológicos e emocionais podem ser considerados como determinantes na saúde/doença de um indivíduo ou população.
Dito isso, observa-se que um auxílio de R$600 a R$1200 reais por poucos meses não resolve problemáticas tão intensas que se acumulam ainda mais no atual contexto que estamos vivendo. Parece até que não se sabia que existia desigualdade social e que o Brasil é um dos países pioneiros nesse quesito. A Pandemia, de maneira infeliz, voltou um pouco os olhares para essa população, ainda não como deveria e de maneira inadequada, mas muitas pessoas começaram a repensar e refletir sobre tal problemática. No entanto, nosso Governos continua com os olhares voltados a burguesia, aos empresários e a tão falada economia, com o discurso de que as pessoas vão passar fome, quando na verdade não está preocupado com os pequenos e sim com os grandes. Torna-se difícil pensar estratégias quando precisamos de esferas maiores para executá-lo
Percebo a desigualdade ao meu redor a todo instante. Causada pelo fator econômico, social, de gênero, etnia ou opção sexual, as desigualdades são ainda mais visíveis em tempos de pandemia. Mas o que mais me frusta na luta contra o coronavírus, um período em que a informação é tão importante no processo de construção da consciência e do saber para o autocuidado e o zelo do próximo, é a desigualdade de informação, causada muitas vezes por um processo estrutural de marginalização de parte da sociedade à condições básicas de sobrevivência. Nesse período de pandemia, a desigualdade é aliada do obscurantismo, do negacionismo e da necropolítica, e agora da infodemia, que exara mais um traço da vulnerabilidade presente em nossa sociedade.
Bom, pelo que posso observar em São Vicente, existe uma enorme desigualdade de classes nessa pandemia, pois alguns hospitais da Baixada Santista cobram para fazer os testes de COVID-19. Além disso, as pessoas que moram em bairros periféricos, ou tem muita dificuldade, ou não tem acesso ao sistema de saúde. Isso somado ao fato de que essas pessoas vivem em condições precárias e sem ajuda nenhuma do governo. Acho que isso se assemelha muito as questões debatidas sobre necropolítica, no qual o Estado decide quem vive e quem morrer, pois é nítida a desigualdade e a vantagem que as pessoas mais ricas tem.
Boa noite! Infelizmente não tive conhecimento que havia um post antes da aula para compartilharmos nossas questões sobre o assunto, por isso, não consegui escrever previamente, mas acho importante a discussão e não poderia deixar de comentar a respeito disso, mesmo que após a aula.
Quando se trata de processo de adoecimento vemos muito que tratam a respeito da biologia do assunto, muitas vezes o social é deixado de lado e os contextos também, em um período de corona vírus, uma pandemia global, tem se falado muito no Brasil pelos líderes nacionais a respeito da economia...O quão cruel é pensar no lucro mesmo quando há tantas mortes? Porém, sabemos que não é uma especificidade que veio com o corona e sim resultado de uma estrutura social neoliberal vigente há muito tempo, dito isso, percebo no meu bairro, periferia da zona sul de são Paulo, uma falta de informação enorme, quando tentei ajudar e orientar a respeito do uso de mascaras ouvi o seguinte “Ah eles estão exagerando, esse corona vírus é briga política” ou até mesmo “Ah mas um conhecido meu usou mascara e ficou doente mesmo assim, não adianta de nada”, a desigualdade muito presente é a educacional e é necessário o acesso a informação que seja traduzido de uma maneira mais popular e que consiga transmitir a seriedade da situação ao mesmo tempo que adapte a linguagem para ser de entendimento geral, há também as desigualdades do dia a dia que são a precariedade do transporte público, falta de saneamento básico (apenas um lado da rua tem acesso a saneamento e o outro lado não), divisão desigual de tarefas domésticas, dentre outras coisas, é muito importante discutir esse assunto!
Obrigada por seu comentário, Julia.São diversas as formas de desigualdades que estão sendo agravadas pela pandemia. Não iremos abordar a questão indígena, mas o genocídio continua e o risco de serem mortos por contaminação aparece como mais uma arma letal, já que são quase inexistentes o acesso aos cuidados e serviços de saúde nas comunidades indígenas.
Antes do cenário que estamos vivendo, eu assisti os filmes Contágio (2011) e Epidemia (1995) e não havia parado para refletir sobre as desigualdades sociais e como ficariam aqueles que possuem menos condições e ainda são precariamente assistidos pelo Estado. Agora, 2020, eu consigo ver as cenas que não tinha visto nos filmes. Uma fila de pessoas aflitas,em situação de rua, querendo uma vaga na Casa de Passagem Estrela Guia, aqui em Barueri, ou ao menos acesso a sabão e água, itens básicos no combate ao coronavírus. Um casal veio no meu portão pedir arroz e feijão. O vendedor de plantas foi parado na minha rua, por policiais que o impediram de continuar comercializando. Conversas sobre o princípio da universalidade do SUS ressurgem e lembramos que na prática esse universo é bem restrito. A pandemia do coronavírus escancara as desigualdades sociais, de gênero, étnico-raciais, além de deixar ainda mais claras as condições precárias de vida que estão submetida a maioria da população brasileira, especialmente a população preta, mulheres, crianças e idosos. Os efeitos colaterais também se estendem aos povos quilombolas, indígenas e trabalhadores informais.
Reflexões sobre a discussão de territórios e COVID-19
A pandemia COVID-19 está relacionada ao conceito de território como espaço social e que envolve a ciência da epidemiologia e como a ação do homem pode ajudar na disseminação da doença, junto ao fenômeno da globalização. Como pode ser visto no texto “TERRITÓRIO: ESPAÇO SOCIAL DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES E DE POLÍTICAS” o território não pode ser visto apenas como um espaço geográfico, é imprescindível que se analise um espaço socialmente, visando a qualidade de vida e saúde junto a outras áreas. Estudar socialmente um território é importante para observar os diferentes modos de vida que os indivíduos possuem por causa do espaço onde estão inseridos. Os indivíduos vivem, adoecem e morrem diferentemente conforme sua inserção nas classes sociais. Independente da doença, neste caso o COVID-19, a determinação social para a manifestação da doença é distinta para diferentes pessoas, mesmo que o agente etiológico não mude. Sendo assim, um indivíduo que pertence à classe média e um indivíduo morador da periferia, terão problemas diferentes com a mesma doença. A natureza flexível e aplicável a múltiplos fins dos recursos econômicos e sociais faz com que eles possam ser usados de diferentes maneiras em diferentes situações para promover a saúde dos seus detentores ou minimizar as consequências da doença. Tendo como exemplo as complicações da Covid-19 em diferentes territórios, destaco a reportagem do G1 NOTICIAS, “Morumbi tem mais casos de corona vírus e Brasilândia mais mortes; óbitos crescem 60% em uma semana em SP”.
Deve-se refletir sobre as circunstâncias de trabalho, localização e moradia dos trabalhadores assalariados e sobre o papel dos diversos fatores que podem contribuir para uma maior exposição e propagação da doença entre estas categorias da base social. No âmbito espacial, a distância entre moradia e trabalho, a dependência do transporte coletivo, a deficiência de saneamento, a densidade demográfica, a interação face a face, as limitações internas em espaço e suporte das moradias (que tem a função de proteção), geram situações e comportamentos de risco para aqueles que se distribuem em espaços com estas características.
Em momento de pandemia se faz, mais do que nunca, necessário olhar para o nosso território de forma social, visando a promoção da saúde, por meio da promoção da solidariedade, onde vários sujeitos sociais e o Estado atuem coletivamente a fim de promover a melhoria das condições de vida e saúde. Para que isso ocorra de maneira justa é preciso conhecer todas as realidades vividas no país, conhecendo os indivíduos, o espaço em que vivem e como ocorre a relação dos indivíduos entre si e com o espaço. Feita esta análise, pode-se elaborar estratégias de ação cuja relevância social possa auxiliar na promoção de saúde.
Assim como foi tratado nas aulas, as desigualdades não são fruto da pandemia, mas sim, anteriores à ela e fruto do nosso modo de produção. Durante essa fase, as mesmas estão sendo evidenciadas e até mesmo agudizadas.
Moro em São Vicente, aqui as desigualdades tornam-se bem evidentes ao percebermos que os bairros com maior número de contaminados são os bairros com maiores índices de vulnerabilidade.
As desigualdades se evidenciam das mais diferentes formas em nosso cotidiano, uma delas refere-se ao isolamento social, que não é garantido a todos e ao invés de ser visto como um direito, passa a ser visto como um privilégio para pequenos grupos.
Conheço algumas diaristas que continuam trabalhando, pois seus serviços são vistos por muitos como essenciais e também pelo fato dos patrões não terem garantido o pagamento dos salários durante o isolamento. As desigualdades de gênero se tornam mais evidentes, quando vemos as mulheres sobrecarregadas com os cuidados da casa, dos filhos, lições de casa, além do home-office. Percebemos a insuficiência do valor pago pelo auxílio emergencial quando muitas pessoas precisam continuar trabalhando, mesmo recebendo o auxílio.
Com a redução das frotas de transportes públicos, vemos muitos trabalhadores tendo que enfrentar diariamente os transportes extremamente lotados, correndo o risco de serem contaminados. Enquanto estamos isolados, pedindo comidas, fazendo compras por aplicativos, muitos motoboys estão se arriscando dia após dia para garantirem o sustento de seus familiares. Enquanto para mim, mulher, branca, usar máscara está sendo algo comum, para um homem, negro não. Precisamos nos atentar para as diferentes desigualdades que se explicitam em nosso cotidiano, reconhecermos nossos privilégios e batalharmos para garantirmos o direito à vida e a saúde de toda população e por uma nova sociabilidade.
No meu bairro as desigualdades se apresentam em sua propria formação, moro em Paraisópolis, e a divisão da parte mais vulnerável e da parte mais rica do bairro se divide através da avenida Giovanni Gronchi, de um lado as pessoas que podem ficar em casa do outro lado as pessoas que moram na favela e não conseguem ficar em casa, pois precisam ir trabalhar.
As desigualdades tornam-se mais transparentes e se acentuam devido às consequências já estabelecidas, às novas necessidades e às novas condições como adoecimento, desemprego, diminuição de renda, entre outros aspectos.
Portanto, há necessidade de repensar a respeito dos valores, afinal “O sistema social é quem está doente”. Logo, é preciso transformar este sistema. O momento da pandemia pode ser então uma fase importante para efetivar tal transformação, aproveitando-se para reunir esforços, organizar-se melhor em lutas mais profundas, opor-se à opressão, enfrentar e combater as situações precárias, o preconceito e as imposições.
No sentido mais amplo, o agravamento da pandemia, em nível nacional, devido ao comportamento e discurso do Presidente da República, à falta de ações práticas nas áreas da Saúde e Economia, amplia ainda mais as dificuldades de acesso às políticas de vulnerabilidade. Portanto, hoje, mais do que enfrentar as desigualdades, é preciso realizar a defesa da vida, que está no cuidado em liberdade, antes de tudo, para jovens, negros, pobres, mulheres, índios e quilombolas.
Levando em consideração que moro em uma área considerada “favelizada“, ou como costumamos carinhosamente chamar de “PFP – Predinhos Favela em Pé”, convivo diariamente com situações de desigualdade como a criminalidade e a fome. Os fatores de raça e gênero são evidentes nessa problemática supracitada.
Há muitas famílias mononucleares, nas quais as mães são chefes de família e se submetem a empregos precários para conseguir levar o alimento as suas casas. “Para grande parte destes trabalhadores brasileiros desprotegidos, o isolamento não é uma possibilidade. Ou se fica vulnerável ao vírus, ou não se paga as contas. Parar significa uma tragédia em uma população já super-endividada. (...) Ao não dormirem bem, a imunidade cai. Muitos desses sujeitos encarnam a lógica neoliberal que atribui ao próprio indivíduo a responsabilidade do sucesso ou fracasso. Por sujeição ou falta de opção, eles se colocam em um regime vigilante intenso de autodestruição” (The Intercept, 17/03/20). A comida não pode faltar, o aluguel e contas precisam ser pagas e os cuidados referente a Pandemia são colocados em segundo plano, mas não por opção e sim por necessidade, como destaca o texto citado. E, por muitas vezes não terem o suporte e estruturas necessárias para viver nessas condições os filhos acabam aderindo à criminalidade em busca de saídas para a miséria.
É evidente que os fatores socioeconômicos podem aumentar ou diminuir o risco de as pessoas contraírem doenças como a Covid-19. Desta forma, conclui-se que condições de alimentação, moradia, trabalho, fatores psicológicos e emocionais podem ser considerados como determinantes na saúde/doença de um indivíduo ou população.
Dito isso, observa-se que um auxílio de R$600 a R$1200 reais por poucos meses não resolve problemáticas tão intensas que se acumulam ainda mais no atual contexto que estamos vivendo. Parece até que não se sabia que existia desigualdade social e que o Brasil é um dos países pioneiros nesse quesito. A Pandemia, de maneira infeliz, voltou um pouco os olhares para essa população, ainda não como deveria e de maneira inadequada, mas muitas pessoas começaram a repensar e refletir sobre tal problemática. No entanto, nosso Governos continua com os olhares voltados a burguesia, aos empresários e a tão falada economia, com o discurso de que as pessoas vão passar fome, quando na verdade não está preocupado com os pequenos e sim com os grandes. Torna-se difícil pensar estratégias quando precisamos de esferas maiores para executá-lo
Percebo a desigualdade ao meu redor a todo instante. Causada pelo fator econômico, social, de gênero, etnia ou opção sexual, as desigualdades são ainda mais visíveis em tempos de pandemia. Mas o que mais me frusta na luta contra o coronavírus, um período em que a informação é tão importante no processo de construção da consciência e do saber para o autocuidado e o zelo do próximo, é a desigualdade de informação, causada muitas vezes por um processo estrutural de marginalização de parte da sociedade à condições básicas de sobrevivência. Nesse período de pandemia, a desigualdade é aliada do obscurantismo, do negacionismo e da necropolítica, e agora da infodemia, que exara mais um traço da vulnerabilidade presente em nossa sociedade.
Bom, pelo que posso observar em São Vicente, existe uma enorme desigualdade de classes nessa pandemia, pois alguns hospitais da Baixada Santista cobram para fazer os testes de COVID-19. Além disso, as pessoas que moram em bairros periféricos, ou tem muita dificuldade, ou não tem acesso ao sistema de saúde. Isso somado ao fato de que essas pessoas vivem em condições precárias e sem ajuda nenhuma do governo. Acho que isso se assemelha muito as questões debatidas sobre necropolítica, no qual o Estado decide quem vive e quem morrer, pois é nítida a desigualdade e a vantagem que as pessoas mais ricas tem.
Boa noite! Infelizmente não tive conhecimento que havia um post antes da aula para compartilharmos nossas questões sobre o assunto, por isso, não consegui escrever previamente, mas acho importante a discussão e não poderia deixar de comentar a respeito disso, mesmo que após a aula.
Quando se trata de processo de adoecimento vemos muito que tratam a respeito da biologia do assunto, muitas vezes o social é deixado de lado e os contextos também, em um período de corona vírus, uma pandemia global, tem se falado muito no Brasil pelos líderes nacionais a respeito da economia...O quão cruel é pensar no lucro mesmo quando há tantas mortes? Porém, sabemos que não é uma especificidade que veio com o corona e sim resultado de uma estrutura social neoliberal vigente há muito tempo, dito isso, percebo no meu bairro, periferia da zona sul de são Paulo, uma falta de informação enorme, quando tentei ajudar e orientar a respeito do uso de mascaras ouvi o seguinte “Ah eles estão exagerando, esse corona vírus é briga política” ou até mesmo “Ah mas um conhecido meu usou mascara e ficou doente mesmo assim, não adianta de nada”, a desigualdade muito presente é a educacional e é necessário o acesso a informação que seja traduzido de uma maneira mais popular e que consiga transmitir a seriedade da situação ao mesmo tempo que adapte a linguagem para ser de entendimento geral, há também as desigualdades do dia a dia que são a precariedade do transporte público, falta de saneamento básico (apenas um lado da rua tem acesso a saneamento e o outro lado não), divisão desigual de tarefas domésticas, dentre outras coisas, é muito importante discutir esse assunto!
Obrigada por seu comentário, Julia.São diversas as formas de desigualdades que estão sendo agravadas pela pandemia. Não iremos abordar a questão indígena, mas o genocídio continua e o risco de serem mortos por contaminação aparece como mais uma arma letal, já que são quase inexistentes o acesso aos cuidados e serviços de saúde nas comunidades indígenas.
Antes do cenário que estamos vivendo, eu assisti os filmes Contágio (2011) e Epidemia (1995) e não havia parado para refletir sobre as desigualdades sociais e como ficariam aqueles que possuem menos condições e ainda são precariamente assistidos pelo Estado. Agora, 2020, eu consigo ver as cenas que não tinha visto nos filmes. Uma fila de pessoas aflitas,em situação de rua, querendo uma vaga na Casa de Passagem Estrela Guia, aqui em Barueri, ou ao menos acesso a sabão e água, itens básicos no combate ao coronavírus. Um casal veio no meu portão pedir arroz e feijão. O vendedor de plantas foi parado na minha rua, por policiais que o impediram de continuar comercializando. Conversas sobre o princípio da universalidade do SUS ressurgem e lembramos que na prática esse universo é bem restrito. A pandemia do coronavírus escancara as desigualdades sociais, de gênero, étnico-raciais, além de deixar ainda mais claras as condições precárias de vida que estão submetida a maioria da população brasileira, especialmente a população preta, mulheres, crianças e idosos. Os efeitos colaterais também se estendem aos povos quilombolas, indígenas e trabalhadores informais.