Jaquelina Imbrizi
Filmes indicados:
A Questão Humana
Leia ao artigo Narrativas de si: contribuições do cinema para a pesquisa e transformação social e entenda porque a Jaquelina Imbrizi fez a indicação do filme A Questão Humana!
Sniper Americano e Sobre Homens e Lobos
Leia ao artigo A desconstrução do discurso sobre trauma em dois filmes de Eastwood: uma contribuição das intervenções psicanalíticas clínico-políticas e descubra o que os dois filmes possuem de semelhante e/ou diferente e consequentemente o motivo da indicação!
Os 12 Trabalhos e Bróder
Leia ao artigo O cinema como resistência à violência direcionada aos jovens negros na sociedade brasileira e entenda o que esses dois filmes tem em comum, qual sua mensagem e porque foram indicados.
link para o livro: https://www.academia.edu/40171557/Que_hist%C3%B3rias_desejamos_contar
Filme – Party Girl ou a garota que gosta de dançar sozinha (série : interlocuções na quarentena)
Por Adriana Domingues, Ana Lucia Gondim Bastos e Jaquelina Imbrizi
Reduzidos a um único tempo verbal, o pretérito, com suspeito presente e um futuro que ninguém quer. (Eliane Brum)
Quanto custa a cada uma de nós, mulheres, escolher um caminho singular, bem fora da curva dos padrões impostos pela sociedade? Quase sempre, os padrões impostos estão relacionados a alcançar os ideais da família feliz dos comerciais de margarina, garantindo a convivência familiar, assim como as belas e fartas refeições, nos almoços e jantares com os parentes. Da mãe dadivosa à avó cuidadora e benevolente, preocupada com os netos, o espaço da casa e do psiquismo feminino deve todo ser ocupado à serviço do bem-estar e funcionamento familiar. Neste modelo, as mulheres se aproximam da imagem da santa religiosa, com todas as energias voltadas a outrem, alheias à suas satisfações particulares. Os prazeres sexuais, fora do modelo da mulher casta, as aproximam da imagem da puta, da vida cheia de luxúria e lascívia. O meio termo entre os dois extremos é a arte das possibilidades. À mulher, também, é exigida a beleza e o frescor da juventude, a fim de se manter atraente aos olhos masculinos, ser amada antes de amar. O processo de envelhecimento traz desafios para algumas mulheres que se referem à perda paulatina da capacidade de atrair tais olhares de admiração e seu poder de sedução é colocado em xeque. Claro, estes desafios são agravados quando nos referimos às mulheres que escolheram um caminho fora dos padrões de felicidade, socialmente impostos; à elas não é dado o direito de contar como é que faz para ser feliz fora do prescrito ao nascer “uma princesa”. Assim, muitas vezes, o envelhecimento é percebido como sinônimo de sofrimento, solidão e sentimento de abandono pelos entes queridos, quanto mais a mulher não cumpriu, na vida adulta, o roteiro da esposa, mãe e avó que atende os filhos adultos e os cuidados com os netos. Mas, quais outras narrativas sobre as formas de viver o envelhecimento feminino podemos dar visibilidade?
Filme – Maudie, sua vida e sua arte (série: interlocuções na quarentena)
Por Ana Lucia Gondim Bastos e Jaquelina Imbrizi
Vivemos em um mundo cão e, isso, ninguém pode negar! Um mundo repleto de padrões de normalidade e de sucesso que dão margem a preconceitos e violências de toda ordem para com aqueles que desses padrões se afastam. Aos que vivem em situação de vulnerabilidade social ou estão mais sujeitos às suscetibilidades de afecções orgânicas, os ataques às suas subjetividades são ainda mais frequentemente.
Mas, como será que cada um de nós enxerga o mundo “através” do vidro de uma janela? No documentário “Janelas da Alma”(2004), João Jardim e Walter Carvalho, tratam a questão do olhar, do ponto de vista e da visão de mundo, com rara delicadeza. O cineasta alemão Wim Wenders, como um dos entrevistados, conta ter sentido falta de “frames” na época em que usava lentes de contato, pois, gostava do enquadramento oferecido pela moldura dos óculos. Maudie Lews (1903-1970) parece falar de algo semelhante quando diz que o que vê através das janelas já vem com moldura...
Quantos “Crimes de Família” ainda serão necessários para desconstruir a opressão contra mulheres?
Por Adriana Domingues, Ana Lucia Gondim Bastos e Jaquelina Imbrizi
Eu não sei vocês, mas nós adoramos produções cinematográficas que apresentam protagonistas que dão uma guinada na sua posição subjetiva, de modo a mudar a trajetória de suas vidas, seja no início, no meio ou no final da narrativa fílmica. Trata-se do turning point que se relaciona à possibilidade de transformação de uma história que sempre pode alcançar uma escolha ética das personagens, uma mudança de postura que envolve a singularidade da personagem e que traz consequências para um coletivo
e transformações para toda a sociedade. Este tipo de produção cinematográfica poderia transformar o espectador e a espectadora, por meio de um tipo de identificação com a protagonista (e/ou uma experiência estética, um acontecimento), que funcionasse como uma interpelação ao sujeito diante de modos de vida que repetem um círculo de violência e de violação de direitos?
MIGNONNES – O dilema das meninas adolescentes: seguir a tradição, brincar ou a erotização precoce do corpo
Por Adriana Domingues, Ana Lucia Gondim Bastos, Jaquelina Imbrizi e Julia Bartsch
O que a ministra Damares Alves, a artista Anitta e as recentes e recorrentes denúncias de casos de estupro de crianças têm em comum? Nada, do ponto de vista dos fatos em si, mas, tudo, se considerarmos a forma como as crianças têm se tornado adolescentes.
O filme franco-senegalês Mignonnes (Netflix), dirigido por Maïmouna Doucouré, nos levou a colocar em análise esses acontecimentos descritos acima. Nele, acompanhamos o cotidiano de Amy (Fathia Youssouf), uma menina senegalesa de 11 anos de idade, em seu processo de amadurecimento e autoconhecimento em plena transição entre a infância e a adolescência.
Considerações sobre a servidão voluntária e identificação com o agressor e sob o impacto do filme Tigre Branco (contém spoilers!).
Por Jaquelina Imbrizi e Julia Bartsch
Somente uma “recepção dispersa” (Horkheimer & Adorno, 1985) dos telespectadores ao assistirem filmes indianos poderia desencadear o juízo de que se trata de uma produção cinematográfica sobre as castas e que nada se refere à desigualdade social inerente à forma de organização capitalista. E, talvez, seja essa a técnica utilizada por algumas dessas produções: a de provocar certo distanciamento no telespectador frente ao que será apresentado por meio de um estilo tragicômico que convida o sujeito para que ele possa rir da sua própria desgraça.
Trata-se do filme “Tigre Branco” (The White Tiger no título original), dirigido por Ramin Bahrani (2021), no qual a história é contada pelo protagonista que utiliza um estilo narrativo que oscila entre o afastamento – o filme se passa em país de costumes diferentes dos padrões ocidentais – e o avizinhamento presente no fato de que o narrador encara o telespectador, em algumas cenas, e faz perguntas direcionadas a quem o está assistindo. O filme chega para falar de uma Índia que também fala de nós. Em um determinado ponto da narrativa, Balran (Adarsh Gourav em seu primeiro papel principal) pergunta “No seu país também é assim?”. Arriscamos dizer que a resposta é sim.
O tédio, a alta performance e o medo do fracasso no filme “Druk – mais uma rodada”
Por Adriana Domingues, Ana Lucia Gondim Bastos, Jaquelina Imbrizi e Julia Bartsch
Druk é um filme dinamarquês do diretor Thomas Vinterberg (o mesmo dos primorosos Festa de Família e A Caça), lançado em 2020. Traz o legado do Dogma, uma câmera trêmula e com pouco enquadre nas mãos do diretor, o que para o tema foi interessante porque não foi necessário que os atores produzissem uma voz pastosa, é o enquadre que produz a sensação mareada.
O álcool, exceptuando países geridos sob severas leis islâmicas, está entre nós. Está nos encontros sociais, como a cena da comemoração de aniversário entre amigos no restaurante. Ali, não está meramente nos copos sobre a mesa. Cada bebida é apresentada como um verdadeiro tesouro. A cerveja, a vodka, o vinho, a champanhe (que pode tanto ser uma palavra masculina como feminina, optamos por sua feminilidade)… Martin (protagonizado pelo excelente Mads Mikkelsen, também presente em “A Caça”) está desbotado, ausente. Sua história parece tão sem sentido quanto suas confusas aulas de história. Ele recusa beber, até ceder à insistência de seus 3 amigos, o aniversariante da noite e professor de psicologia, Nikolaj (Magnus Millang), o professor de música Peter (Lars Ranthe) e o velho professor de educação física Tommy (Thomas Bo Larsen). A vodka, apresentada como uma preciosidade, parece abrir o baú de Martin e vemos seus olhos se marejarem. É criado o bom motivo para que todos bebam ainda mais. Os amigos saem pelas ruas inebriados pela ação das bebidas, festejam como há tempo não faziam. E então, amparados na tese em que todo ser humano nasce com um déficit de taxa alcoólica de 0,05%, iniciam o que seria um suposto experimento científico, tomando por base o princípio do escritor Ernest Hemingway: beber durante o dia até às vinte horas da noite, inclusive em horas de trabalho, enquanto resultados do experimento são registrados, na tentativa de proporcionar um fundo científico ao que se faria a seguir.